sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Canções de 2011 (10).



Apenas umas palavras sobre esta canção. E sobre esta interpretação em particular.
Só para dizer que é das coisas mais assombrosas que já ouvi e vi.
Só isso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Lista. 2011

Este ano foi complicado.
Foi uma luta entre a razão e a emoção. Entre uma obra prima descarada. E uma obra prima que, à partida, não o era. Entre a evidência e a descoberta lenta, difícil.
Numa primeira versão, o disco de PJ Harvey era aquele que, de caras, mais tinha mexido comigo.
Mas lentamente fui-me apercebendo que isso não era verdade. Porque há discos que não nascem em nós; constroem-se. "The King of Limbs" é um desses casos. Porque não é evidente. Não é imediato. Não é fácil. Nem é perceptível. E, no entanto, cresce a cada audição de uma forma absolutamente visceral.
A sua versão ao vivo (em Live from the Basement) torna tudo muito mais claro: trata-se de um dos melhores discos de Radiohead; arrisco mesmo a dizer - oh! heresia - que é muito mais vanguardista e arriscado do que "Kid A".
Sei que vou contra a corrente dominante. Mas não importa.

Como sempre, em todos os anos, a minha lista ordena-se por ordem de emoções, muito mais do que pela qualidade intrínseca de cada disco.

E aqui fica ela:

Radiohead - The King of Limbs
PJ Harvey - Let England Shake
The Horrors - Skying
Cat's Eyes - Cat's Eyes
Washed Out - Within and Without
S.C.U.M. - Again into Eyes
Suuns - Zeroes QC
Wild Beasts - Smother
Anna Calvi - Anna Calvi
Elbow - Build a Rocket Boys

Ficou muito de fora. Mas tudo cá dentro.

Listas. 2005|2010

As inevitáveis listas de fim-de-ano: tão certas na vida de um melómano como o nascer do sol.
As minhas obedecem sempre ao mesmo critério: organizam-se por ordem de emoções.
Só.

Antes da lista de 2011, deixo aqui um olhar sobre os seis anos anteriores.
Percebe-se que há escolhas de época que acabaram por não resistir ao teste do tempo. Essa é a beleza dos discos: crescem ou esmorecem em nós a cada audição.
Hoje as escolhas seriam diferentes. Mas retratam as emoções da época. E retratam o que senti ou vivi nesses anos. Como se fossem uma banda sonora permanente.

Aqui ficam. Para memória futura.

2005
sigur rós - takk
arcade fire - funeral
bloc party - silent alarm
the national - alligator
animal collective - feels
the mars volta - frances the mute
editors - the back room
gorillaz - demon days
beck - guero
ladytron - witching hour
2006
thom yorke - the eraser
yeah yeah yeahs - show your bones
beck - the information
arab strap - the last romance
the strokes - first impressions of earth
sonic youth - rather ripped
the arctic monkeys - whatever people say i am, that's what i'm not
tv on the radio - return to cookie mountain
herbert - scale
junior boys - so this is goodbye
2007
radiohead - in rainbows 
interpol - our love to admire
the national - boxer 
yeah yeah yeahs - is is ep 
lcd soundsystem - sound of silver 
blonde redhead - 23
the noisettes - what's the time mr. wolf 
the klaxons - myths of the near future
!!! - myth takes 
digitalism - idealism 
2008
tv on the radio - dear science
portishead - third
vampire weekend - vampire weekend
mgmt - oracular spectacular
the fireman - electric arguments
m83 - saturday=youth
sigur rós - með suð í eyrum við spilum endalaust
santogold - santogold
grace jones - hurricane
the week that was - the week that was
2009
The Horrors - Primary Colours
The Invisible - The Invisible
Yeah Yeah Yeahs - It’s Blitz
The XX - XX
Wild Beasts - Two Dancers
Lee Fields & The Expressions - My World
Fever Ray - Fever Ray
Arctic Monkeys - Humbug
Junior Boys - Begon Dull Care
St. Vincent - Actor
2010
Arcade Fire - The Suburbs
LCD Soundsystem - This is Happening
Vampire Weekend - Contra
The Walkmen - Lisbon
Twin Shadow - Forget
Blonde Redhead - Penny Sparkle
Deerhunter - Halcyon Digest
Huskey Rescue - Ship of Light
Maximum Balloon - Maximum Balloon
Beach House - Teen Dream

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Eu, Melómano Anónimo, me confesso.

Admito: a música é o meu grande (e, diria com alguma segurança, único) vício.
A minha dependência é profunda, prolongada no tempo e nos diferentes espaços que me rodeiam. 
Durante muito tempo chamei-lhe “um prazer”. Mas o que acontece quando, de repente, nos damos conta que pura e simplesmente não podemos passar sem esse “prazer”? O que acontece quando passamos a depender de um som quase tanto como do ar que respiramos? O que acontece quando necessitamos de enquadrar cada momento do nosso dia-a-dia com uma canção, como se necessitássemos de uma banda sonora para a nossa vida?
Poucas coisas se equiparam ao momento em que, pela primeira vez, depois de comprarmos um determinado disco, descobrimos uma qualquer canção brilhante, um qualquer fragmento genial ou qualquer sopro de inspiração. A maravilha da descoberta provoca um sentimento quase infantil de assombro e desassossego, que não sabemos se havemos de partilhar com o resto do mundo ou guardar discretamente no nosso bolso para que ninguém estrague.
Admito: não conseguiria viver sem a música. É uma fraqueza forte (por paradoxal que pareça). E, para além do som, não conseguiria viver sem o elemento físico e carnal da música: os discos. Digitais ou em vinyl. De 45 rotações ou em digipack. O acto da descoberta tem também essa realidade bidimensional, associando o embrulho à própria peça de arte.
O momento da compra dos discos (sim, porque infelizmente para mim, não consigo “sacar” ou “roubar”) representa o período da fraqueza, da tentação. Já comprei discos em tantas cidades diferentes, de Berlim a Barcelona, de Londres a Lisboa, e a sensação é sempre a mesma: uma espécie de sentimento de conquista de um bem raro, quase único, que agora não será de mais ninguém.
E depois, como dizia um amigo meu numa revista da concorrência, temos o próprio acto de arrumar os discos, que é um momento sacramental, incompreensível para os que não sofrem da mesma doença. A catalogação, a disposição na prateleira e a metodologia de arrumação são, por si só, motivo para as mais elaboradas conceptualizações teóricas no seio da comunidade melómana. 
Não é fácil viver com este vício, com esta doença.
Não é fácil ter que dormir todos os dias com o iPod a tocar nos ouvidos e, em vez de embalar para o sono, procurar cada pormenor e cada detalhe em cada canção que passa. E não é fácil domar toda a informação que se vai acumulando no nosso cérebro e no nosso coração de cada vez que ouvimos um disco: quem é o produtor, em que estúdio foi gravado, que músicos tocaram, a quem agradeceram no “booklet” e o que se passava nas suas vidas no momento em que compuseram a canção. E temos também as letras das canções, que, progressivamente, vão ocupando espaço no nosso disco duro cerebral, como se de um vírus se tratasse.
Há muitas semanas que ando para escrever isto. Reflecti bastante sobre isso. Afinal, não é suposto que este espaço seja confessional. Mas precisava de deitar isto cá para fora, como se estivesse numa reunião dos melómanos anónimos: “Olá, o meu nome é Rui e sou viciado em música”.
Admito.

(texto originalmente publicado no Jornal "O Verdadeiro Olhar", em 15/04/2009)